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espaço fotografico AHS photo

Abertura do Espaço Fotográfico AHS photo

Este é um espaço que pretende viver e pensar a fotografia e o fotografar. Que essa dupla possibilidade esteja presente no dia a dia dos frequentadores e hóspedes do Grand Mercure Ibirapuera e que o Espaço Fotográfico AHS photo ocupe um lugar de referência na cultura da cidade e seja um agente promotor de civilidade e cidadania, além de possibilitar que os indivíduos gozem do prazer que só a arte pode proporcionar, e que possam, assim, “ampliar a esfera de presença de seu ser” (Montesquieu) na vida.

mostra hortas e silvas

Mostra “Hortas e Silvas”

Alameda Itu
Doce Carolina

“Para mim, a fotografia deve sugerir, não insistir, nem explicar.”

Brassaï

"O meu pai era paulista

Meu avô pernambucano

O meu bisavô, mineiro

Meu tataravô baiano

Meu maestro soberano

Foi Antonio Brasileiro"

Paratodos, Chico Buarque de Holanda

Em 1993, Chico compôs essa música que começa evocando seus antepassados, na sequência reverencia um rol de compositores e cantores(as) brasileiros(as), quase todos “de seu tempo”, e termina saudando o futuro num “evoé, jovens à vista”. Foi partindo deste espírito de Brasil que esta mostra foi concebida. Foi pensando numa certa possibilidade de país, pensando seu passado, suas histórias, suas negações, seus cruzamentos, seus enganos... Resolvemos correr este risco.

Contamos para isso com os Silvas que são Hortas também! Silva – selva, bosque, floresta. Três deles: Alexandre, Camila e Giovanna, três Hortas e Silvas. Silva, que é o sobrenome mais popular do Brasil, herança de nossa colonização portuguesa, sobrenome de alguns presidentes brasileiros, desde a República Velha até a atual, sobrenome nobre na Idade Média, e de milhões de histórias anônimas.

Em junho de 2022, logo após a mostra Nuances, realizada por Alexandre em parceria com o Grand Mercure Ibirapuera, começamos a estruturar este Espaço Fotográfico Permanente, e de ambos os lados o desejo foi começar mostrando algo sobre o Brasil. Nada contra o samba, o carnaval e o futebol, mas...

Como o Espaço pretende sempre trazer em suas mostras o trabalho de Alexandre e de, pelo menos, mais um(a) fotógrafo(a), pensamos então começar em família, e conforme já foi dito, começaremos com Camila e Giovanna.  Aqui no site há textos sobre as fotos que elas apresentam.

 

Do total de trinta obras apresentadas na mostra, vinte e quatro são de Alexandre. No seu conjunto elas estão agrupadas em três grandes séries, mais duas fotos isoladas. São cidades/circuitos, ainda chamados por muitos de cartões postais do Brasil (embora estes, com objetos, e, consequentemente, como o instigante hábito de se enviar cartões postais, já não existam mais).

 

• Dez em “Doce Carolina/São Paulo”

• Uma “Alameda Itu/São Paulo (tela)”

• Oito em “Aves/Foz de Iguaçu”, sendo uma delas “Harpia harpyja”

• Quatro em “Minas/Cidades Históricas”, sendo duas “Ouro Preto”, uma “Sabará” e uma “Espectros/Tiradentes” (tela)

• Uma em “Janela da Alma”

 

Sobre as fotografias, repito aqui algo que escrevi em 2017 sobre o trabalho de Alexandre: “Sob este aspecto, para o deslumbramento [continuo considerando ‘o deslumbramento’ a chave mestra, o conceito para se entrar e operar no trabalho de Alexandre] vale uma proposição de Wittgenstein a respeito das relações entre o que é para ser dito e o que é para ser mostrado. O que pode ser mostrado, observou ele, não deve ser dito.” Vamos então às obras!

Rafael Guanaes

Camila
A IMERSÃO DE CAMILA

Camila Zorzan Horta e Silva nasceu em São Paulo em fevereiro de 1987. Ela é uma de nossas Silvas. Uma Horta e Silva. Camila fotografa há alguns anos e tem um olho cada vez mais apurado. A experimentação técnica em busca de uma resposta para as crescentes dificuldades de conviver com a ausência de sentido de um mundo e um país em agonia, opera com radicalidade - que ainda espera se tomar forma - para ser confirmada e melhor compreendia através de seus futuros trabalhos. Uma visita à sua página no Instagram, com fotos desde 2021, pode dar certa noção da transformação que está em curso. “Imersão no Cerrado” é a série da qual foram tiradas as três fotografias escolhidas para a mostra. Sobre sua fotografia, Camila diz:

 

Minha trajetória na fotografia foi muito influenciada pelo meu pai. Quando pequena ele fotografava e filmava vários momentos importantes familiares. Meus álbuns são recheados de boas fotos desde bebê, o que não é algo comum para quem nasceu nos anos 80. Comecei a ajudar meu pai a tirar fotos em viagens, ficando com uma máquina extra, ajudando a trocar de filme, montando tripés. Na faculdade de psicologia iniciei uma relação mais próxima com as fotos, naquela época gostava de fazer retratos. Algumas aproximações e afastamentos da fotografia aconteceram ao longo de minha vida. E durante a pandemia senti muita falta do meio natural e também de me expressar. Iniciei então um projeto com uma amiga para nos mantermos em contato com a natureza e com a arte. A proposta do Projeto Aflora era tirar uma foto por dia do ambiente natural possível de se encontrar nos centros urbanos em que moramos, eu em São Paulo e ela em Amsterdã. Eram momentos de contemplação e cultivo do belo através do olhar. A partir desse projeto percebemos o impacto dessa conexão com a natureza  e com a expressão pessoal na nossa saúde mental. Iniciamos uma pós-graduação em Ecopsicologia Aplicada, para pesquisar mais essa relação. 

As  três fotos escolhidas para essa exposição fazem parte do projeto de conclusão do curso, e foram tiradas em reserva ambiental próxima a Brasília, durante uma imersão de 15 dias que fizemos no local. Posteriormente, foram impressas, sobrepostas manualmente e refotografadas. A ideia do processo foi retratar a abertura e as alterações dos sentidos promovidas pela experiência, capturando as belezas e texturas do cerrado.

Rafael Guanaes

Giovanna
A FOTOGRAFIA E O BRINCAR

Giovanna Marinangelo Horta e Silva nasceu em São Paulo em junho de 2015. Ela é uma de nossas Silvas. Uma Horta e Silva. Giovanna fotografa há poucos meses. Num fim de semana recente, pediu o celular emprestado ao pai e disse: “vou fotografar igual a você”. Deu 19 cliques e teve que devolver o celular a Alexandre. Das 19 fotografias tiradas, três são exibidas aqui na mostra Hortas e Silvas. Giovanna deu o nome de "Gelo Negro" à primeira, "O Raio" à segunda e à última Alexandre deu o nome de "Rosácea".

 

Entre as perguntas que nos são feitas quando mostramos as fotos de Giovanna - e revelamos sua idade - uma tem se repetido constantemente, sem que a respondamos: “Tem algum valor artístico a foto de uma criança?”.

 

Se desejássemos poderíamos ter usado um truque sujo, uma pegadinha, e não termos revelado a idade de Giovanna, deixando que as imagens fossem vistas e apreciadas. Também poderíamos ter usado um argumento de força, comparando o trabalho de uma criança com, por exemplo, o caso do conhecido fotógrafo australiano cego Brenden Borellini e citar outros casos das muitas precocidades ou “excepcionalidades” no campo das artes, mas, seguindo por este caminho, perderíamos algo muito significativo e importante ao olharmos para as fotografias aqui expostas.

 

Quando Giovanna pegou o celular de Alexandre, primeiro escolheu determinados objetos, depois se aproximava e distanciava deles, parecendo procurar – para quem a olhava – algo neles que a agradasse. Então, com segurança, tocava na tela do celular, e pronto: a fotografia! Demonstrando muita segurança, sem receio algum, aquilo lhe parecia muito familiar e costumeiro, e foi seguido pelo comentário: “Algumas ficaram boas, outras não ficaram tão boas!” Como Alexandre, que teve seus primeiros contatos com a fotografia através do pai, e como Camila, que também entrou em contato com essa arte através de seu pai, Giovanna está trilhando o mesmo caminho, entrando em contato com a fotografia através de seu pai, mas também vivendo em um ambiente cercado por imagens fotográficas.

 

Ver o pai e a irmã fotografando, ir a exposições, crescer cercada por fotografias nas paredes de sua casa, permite que Giovanna tenha uma relação muito próxima e comece a desenvolver sua própria linguagem com a fotografia e, como em toda criança, essa linguagem não é apenas técnica, racional. Ela não apenas imitou o pai, isso é o que os adultos gostariam que as crianças se limitassem a fazer, ou seja, que elas fossem um ensaio de “gente grande”. A linguagem da criança é outra, porque elas estão em outra esfera, a esfera do lúdico, do jogar, a linguagem da criança é, portanto, a do brincar. A Giovanna estava brincando com a câmera e com a imagem, algo que todo grande fotógrafo conseguiu preservar em seu olhar.

 

Rafael Guanaes

carolina
DOCE CAROLINA

Carolina dança. Carolina – que também é nome de uma música do Chico – dança sem estímulos ou influência do ambiente familiar, ou de qualquer outro, desde seus três anos. Adolescente, antes de seguir para a carreira nos EUA, passa por estudos de ballet clássico, jazz e dança contemporânea, em São Paulo.  

 

Se começou a dançar tão cedo, Carolina já nasceu sob o signo da música. Seu pai, Marcos, um amante da música, conhecedor profundo de jazz e blues, escolheu o nome Carolina, devido à canção de que gostava muito, Sweet Caroline, que fez sucesso na década de 1960, composta e gravada por Neil Diamond.

 

As imagens de Carolina estão em 10 das 24 fotografias de Alexandre na mostra Hortas e Silvas. Algumas coloridas, mas há retratos em branco e preto. Não houve uma coreografia ensaiada, os passos foram espontâneos. Sob os pés de Carolina o palco é o heliponto do Hotel Grand Mercure Ibirapuera, e o cenário ao fundo são a cidade de São Paulo, sua linha do horizonte, um parque, o obelisco, um museu, seus carros, seus céus, seus cinzas, sua vertigem... Alexandre, nesta série, a primeira em tempos que podemos chamar de pós-pandemia, mantém o mesmo padrão técnico que adotou ao longo de sua trajetória: mínimas alterações digitais e a utilização de luz natural. Luz natural que, numa tarde nublada, torna-se um prazeroso desafio para o fotógrafo. E o que acontece então é um balé entre a câmera e a modelo, onde a bailarina como que ignora a presença da câmera e do fotógrafo. O resultado é para ser visto, tornando supérfluo qualquer comentário escrito.

 

Carolina Wong Giansante, hoje bailarina da Bodiography Contemporary Ballet, de Pittsburgh – cidade do pai da pop art, Andy Warhol – Pensilvânia, EUA. Carolina traz em seu nome uma marca bem brasileira, talvez paulistana: nascida no tradicional bairro do Tatuapé, na zona leste da cidade, tem o sobrenome Wong, da mãe, Man, que nasceu em Hong Kong, China, com avós procedentes da província de Guandong (Cantão), China. Tem Giansante, com seus bisavós vindos da Itália. Esta mistura não a torna menos brasileira, ao contrário, pois se é real a possibilidade de uma diversidade como característica de um possível Brasil a ser construído, mais e mais essa dança de nomes e distâncias deve se afirmar e prevalecer.

Rafael Guanaes

Fotos Doce Carolina

Doce Carolina/São Paulo

Alameda Itu SP

Alameda Itu/São Paulo

Aves

Aves/Foz de Iguaçu

Minas

Minas/Cidades Históricas

Janela da Alma

Janela da Alma

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